Lenda XXIII : Um estranho no paradiso
Um estranho no paradiso
1
Alí uma preciosidade,
vivindo num paradiso,
um éxtase permanente,
uma música celestial.
2
Com anjinhos que voavam,
com bolboretas e froitos
de todo clas, e toda cor.
Estrelas e arcos da velha.
3
Corpos de homens espidos
e de mulheres espidas.
Uns corpinhos moi perfeitos
e bafejando saúde.
4
Nom sentia falar ninguém
e se a alguém eu sentia,
eu nom o podia entender,
nom sei se cantava ou ria.
5
Entom estranhei a fala,
as nossas verbas estranhei,
nom se sentiam conversas,
estranhei entom a língua.
6
Estranho no paradiso !
Ulas palabras de Curros ?.
Estranhei a Rosalía,
ulas cantigas de amigo ?.
7
Nom via à gente que eu queria,
nim sentia a minha música,
a que eu quigera escuitar,
nada de violins nim gaitas.
8
Ula a musa que adorava ?,
que adorava com delírio.
Pensei que entom nom pisava
paradiso verdadeiro.
9
Nom havia soles nim luas,
nim palabras nim apertas,
nim jardins de namorados,
nom era meu paradiso.
10
Nom vim a Miguel Hernández,
nim vim a García Lorca,
e ti nom estavas Brigid,
entendim que alí nom era.
11
Nom era o meu paradiso,
érache um sitio bonito,
de maravilhas bem cheio,
coma vivindo no ceo.
12
Peró Brigid nom estava,
entendim que alí nom era
o nosso gram paradiso,
onde as Deusas falavam.
13
Alí entendim minha Deusa,
que es a Deusa dos sonhos,
a minha Nai dos poetas,
a minha Deusinha Brigid.
14
Eu sonho co paradiso,
polo pronto volvo a Terra.
Alí faltavam sorrisos,
faltavam bicos e apertas.
15
Ula música dos nenos ?,
quando jogam nas carreiras.
Tamem faltavam-me flores,
ulos miquinhos dos lares ?.
16
Faltava tamém o meu Lar,
onde habitar cos que eu quero,
onde rir e contar contos,
onde vivir coma em sonhos.
17
Faltavam montes com neve,
cimas do senhor Verdaguer,
os camininhos de Oriente
e as regaladas montanhas.
18
Os paxarinhos cantando,
as andurinhas chiando
e os peixinhos do mare,
sacando o bico a saudare.
19
Nom vim bosquinhos de fentos
junto as nossas carvalheiras,
nim fontes, nim augas de amor
nas beiras do nosso fogar.
20
Faltou o lume do inverno
numha lareira queimando,
pondo ao quente as ánimas,
alouminhandoras de cans.
21
Quem mais me faltava eras ti,
sem ti alí falta todo.
Alí eu era um estranho.
Alí nom é o paradiso.
22
Pois entom faltando-me a luz
e faltando-me o verbo,
aquel nom é o paradiso,
que o paradiso é na Terra.
23
O meu paradiso é alí,
justinho alí onde estás ti,
onde veu a vivir Brigid,
nossa costa brigantinha.
24
É onde espero por Ela,
olhando de cara o sol-pór,
polas tardinhas no peirau,
todo o inverno e no verao.
25
Faltou o meu rio Gato
e o regueiro de Porros,
tamém o Val de Maria
e ulo meu ninho de groi ?.
26
Nom vira a costa da morte
nim as fervenzas do Pindo,
faltou-me o Mare Nostrum
e o senhor Martí i Pol.
27
Ulos Deuses do Olimpo ?,
faltou-me o meu Homero,
e faltarom-me as nereidas,
faltou-me os bicos das ninfas.
28
Ulo arrecendo dos prados ?,
onde eu nacera e mamara,
nos albinhos peitos da Nai,
e ulo agarimo do Pai ?
29
E a casinha de madeira
e a casinha branca, ula ?.
Faltou minha Moradelha,
faltou-me a choivinha nela.
30
Ser um so Ser no teu corpo,
ou Ser um Ser tam so, no meu,
tanto tem, faltou uma aperta,
entre os bracinhos do meu Bem.
31
Faltarom a luz e as verbas,
e aquelas miradas brancas
entre os nossos filhinhos,
faltavam as minhas flores.
32
Sentim-me coma um estranho,
e logo volvim à Terra,
cumha renovada ilusom,
ja estava no paradiso.
🌟
Foto : / Bastiments, Marzo de 2006
Moradelha editora
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