Lenda XVII : A Carvalha Língua
Elegia da Língua
-- o --
1
No Ribeiro de Santomé
havia um velho carvalho.
Um dia prendêrom-lhe lume.
Mandárom-no pra o caralho.
2
Ja há mais de quarenta anos,
quedou tam só o pé do toro.
Muitos carvalhos arcanos
decotárom sem decoro.
3
E plantárom-lhe arredor
uma dúzia de eucaliptos
que queimou aquele verdor,
onde deitavan-se os ventos.
4
Carvalha, Língua chamada,
porque as suas folhas no outono,
púnham-se da cor rosada,
coma se foram um sono.
5
E mentres os eucaliptos
que de medrar nom paravam,
sentiam-se na terra gritos
de raices que falavam.
6
O noso velho carvalho
latejava co seu toro,
coma um gigante bugalho,
com tam sequer um só poro.
7
Tam só tinha um fio de vida,
à espera do seu tempo,
que ja viria em seguida,
quando do eucalipto ò chimpo.
8
Um dia o Fénix e a Borralha,
gatinhas irmás do Mundo,
forom cheirar a carvalha,
virom um retono ò fondo.
9
A dúzia dos eucaliptos
forom o branco uma noite,
ja que subiram tam altos,
daquela esperada morte.
10
Uma noite de trevoada,
com doze raios mortais,
coma rachados à espada,
deitados pra nunca jamais.
11
Onda carvalha finando,
tal doze espigas gigantes.
O seu pé reverenciando,
a dúzia de penitentes.
12
Coma do seu toro raios,
cinquenta dias ardendo.
A trevoeira dos maios,
deixou os rádios quecendo.
13
Tanto queceu o terreno,
que a Língua volveu renascer.
Carvalho novo e sereno,
quanto trabalho por fazer.
14
Ao atopar o eido limpinho,
sen os indesejáveles,
depois de tanto tempinho,
naceram-lhe caraveles.
15
Repenicavam na noite
os espíritos velhinhos
para que a carvalha escoite
os seus doces alouminhos.
16
A Língua começou a medrar
Velaí as novas polinhas
Velaí folhinhas botar
Velaí abelotinhas.
17
Vê-la, que corona vê-la.
Em só sete dias medrou,
via-se dende a Portela,
um milagre que a nai chorou.
18
Subiu com ansia para olhar,
coma um neno que quer jogar,
querendo as folhinhas molhar
e bicar o Fondo Lugar.
19
Dende riba o ceo noturno,
ver a estrela Rosalía,
alinhada com Saturno,
Río Sar da sua família.
20
Os bugalhos, esmeraldas,
abelotes estrelinhas,
com chapéus de ouro tapadas.
As suas folhas cheas de ondinhas.
21
Rosalía, follas novas,
cores feitas só pra Ela.
Cantares chamando chuvas,
Cançoms de letra singela.
22
Cuma arroiada do Gato,
desapareceu o intruso,
foi comido polo fento,
as fopinhas e codesso.
23
No caminho do Ribeiro,
carvalhal, coas Remeladas,
festas de tempo vindeiro,
gaita, pandeiro, empanadas.
24
Romarias carvalheira!,
meirande de todo o lugar.
Música de muiñeira!,
músicos a todo fungar.
25
Uma moçinha de Terzas
levouche doze abelotas,
entre um raminho de berzas
coas suas bonecas nas costas,
26
à festa das Maravilhas.
E ali mesmo ás bendeciu,
e ali plantou as filhas
da carvalha que reluziu.
27
Arredor da igrejinha,
luzen por todo Cartelhe
assombrando à romeirinha
ao vir à Virgem rezar-lhe.
28
Foi assim como renasceu
a Língua, duma soa galha.
A nova geraçom nasceu.
Nova Galiza, Carvalha.
-- o --
Foto : / As Maravilhas, 10 de Xulho de 2016
A R. Carvalho Calero in memoriam
Letras Galegas 2020
Moradelha editora
Comentarios
Publicar un comentario